A terapia de Elias

No livro bíblico de Primeiro Reis temos o relato dos feitos de um homem muito importante em seu tempo, chamado Elias. Ele demonstrava grande intrepidez, coragem nos enfrentamentos, e exercia um papel muito importante em sua sociedade, no papel de profeta de Deus.

Em seu ministério, ele experimentou situações miraculosas, como a ressurreição de mortos, ser alimentado por animais selvagens que traziam seu alimento e, o mais destacado de todos: segundo seu pedido a Deus, fez cair fogo do céu diante de muitas pessoas, consumindo um animal morto em sacrifício, numa prova de poder do Deus de Israel diante de profetas de deuses de outros povos. Como se não bastasse, nesta ocasião ele matou a espada todos os referidos profetas, executando a lei mosaica de matar profetas pagãos, oitocentos e cinquenta homens, mostrando profundo zelo por sua fé.

Porém, após esta sucessão de emoções extremas, ele se viu ameaçado por uma rainha chamada Jezabel, furiosa pela derrota de seus profetas protegidos. E sua reação foi medo. O homem que matou pessoalmente oitocentos e cinquenta homens, temeu a ameaça de uma mulher. E fugiu. Podemos pensar no que motivou este medo em um homem tão virtuoso, mas sem dúvida, todo homem e mulher pode se achar em uma situação de vulnerabilidade em caso de stress elevado. Talvez esta ameaça tenha sido o que faltava para que ele se achasse em uma situação de sofrimento, e não quisesse mais enfrentar outra situação adversa.

Segundo o relato bíblico, ele abandonou seu criado, e caminhou por um dia inteiro sozinho pelo deserto. Após essa caminhada, ele se assentou embaixo de uma árvore e desejou a morte. Pediu ao mesmo Deus que o atendeu na vitória contra os profetas com fogo dos céus, que lhe tirasse a vida, já que ele perdeu a motivação de viver. Segundo suas palavras, não se via melhor que seus antepassados, que já não estavam vivos.

Notamos em Elias sintomas evidentes de uma depressão profunda, provocada por um stress elevado em um homem que tinha uma atividade tão importante, porém não teve tempo para assimilar tantas emoções. Dentro de seu estado de sofrimento não conseguiu associar a mesma fé que apresentou a tempos atrás com sua própria vida, e todas as possibilidades que tinha de enfrentar a situação adversa que se levantou.

Mas um processo terapêutico aconteceu a seguir, ajudando-o a superar esta situação.

Primeiro, ele adormeceu. Foi acordado por um anjo, que lhe apresentou uma refeição. Depois de comer, ele se deitou novamente, foi acordado e orientado a se alimentar de novo. Com a força desta comida, ele caminhou milagrosamente por quarenta dias e quarenta noites (todas as vezes que o texto bíblico trás esta expressão, tem o sentido de muito tempo, assim como em outras passagens com o mesmo número). Ao chegar no lugar indicado por Deus, passou a noite numa caverna, o lugar mais seguro possível no contexto do deserto.

Podemos traçar um paralelo com os passos que todos nós devemos observar para o início de um processo terapêutico eficiente. Uma boa alimentação, exercício físico e descanso adequados. Após cuidar destes detalhes, ele pôde começar a tratar seus sentimentos, com o próprio Deus. Infelizmente, muitos não atingem o sucesso esperado no tratamento da saúde mental porque não atentam ao quanto estes detalhes físicos são importantes para a saúde espiritual.

Deus pergunta a Elias algo muito parecido com o início do trabalho terapêutico. Pergunta o motivo pelo qual ele está ali. E é muito reconfortante para o paciente quando ele consegue expor seus motivos de preocupação, suas mágoas, aquilo que provoca seu sofrimento.

Quando Elias expõe seu coração, ele recebe a orientação de Deus voltar pelo caminho que veio, e cumprir sua função de profeta, ministrando a unção de Deus em quem Ele determinou, e foram três pessoas específicas: um rei para o povo sírio, um rei para o povo de Israel e um novo profeta que o sucederia. Deus escuta suas alegações, mas não o incentiva a fugir. Entender nossos medos, lidar com eles e desenvolver nossas virtudes produtivas fazem com que superemos o que nos aflige e impede a caminhar.

Elias é lembrado também que ele não está sozinho, não foi o único profeta que sobrou como resistência aos seus opositores: havia sete mil pessoas que pensavam como ele, que não se corromperam. Temos a tendência de não enxergar que não estamos sozinhos, mesmo nos momentos difíceis. Há motivos e pessoas especiais que contam com nosso sucesso.

A Bíblia não relata muitos outros feitos de Elias depois deste episódio, mas ele reaparece cumprindo o chamado de Deus, confrontando seus opositores novamente, e deixando um legado que ultrapassou os séculos, como um homem que Deus usou bravamente para cumprir seus propósitos. E que esta situação que descreve bem um processo terapêutico possa nos inspirar a saber que todos podem superar dificuldades relacionadas a mente, e continuarmos nossa jornada de forma satisfatória e frutífera.

Bibliografia: Segundo livro dos Reis, capítulo 18.

Luiz Augusto dos Santos é Pastor, membro da Igreja Evangélica de Vila Yara, em Osasco – São Paulo/Br e Terapeuta e seu Instagram é @luizsantos_psicoterapeuta

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